Eu, como Pelé, me trato na terceira pessoa.

terça-feira, novembro 28, 2006

Reflexões de Férias 2

Neste final de semana graças a um furto de carteira (que não era a minha) fiz um programa peculiar: fiquei sentado no banco da delegacia. Esclarecendo as declarações acima, eu não era suspeito do roubo e sim acompanhante da queixosa. Já que não havia nada a fazer a não ser esperar a nossa vez de fazer o B.O., o que restava era observar os tipos que estavam naquele recinto. Havia desde os policiais sentados na sombra conversando entre si à espera de um chamado até os outros queixosos desde os resignados, passando pelos entediados e os revoltados.
Um deles tinha um caso curioso: iria prestar queixa contra o chefe. O que incomodava neste trabalhador sem carteira assinada (portanto sem os tickets, passes e planos de saúde, entre outras benesses) não era a exploração no trabalho, e sim os maus tratos de seu chefe que, segundo o queixoso, insultava-o como se fosse um animal.
Pois bem, e daí o que eu tenho a ver com isso? Respondo: volto a trabalhar no final desta semana e espero que já não comece com tudo e trabalhe também já neste final de semana e fico imaginando que eu reclamo muito das minhas condições de trabalho mas poderia ser bem pior. Afinal trabalho na área que eu escolhi e não sou desrespeitado no ambiente de trabalho.
Para terminar a sessão de reclamações “droga de vida, isso só acontece comigo!”, cito abaixo um texto do poeta de língua alemã Rainer Maria Rilke tiradas do livro Cartas a um jovem poeta. Em linhas gerais, esse livro contém cartas do poeta endereçada ao jovem correspondente Franz Kappus que pede conselhos de como se tornar e se aprimorar como poeta.

Quem é que lhe diz que o senhor tem uma posição? Eu sei, a sua profissão é dura e cheia de contradições que o afetam, e eu previa as suas queixas, já sabia que elas viriam um dia. Agora que vieram, não posso tranqüiliza-lo, posso apenas aconselhar que pondere se todas as profissões não são assim, cheias de exigências, cheias de animosidade contra o indivíduo, repletas de ódio daqueles que se conformaram, resignados e rabugentos, com sua obrigação insossa. O cargo com o qual o senhor tem de viver agora não é mais carregado de convenções, preconceitos e enganos do que todos os outros cargos; se há alguns que revelam uma liberdade maior, mesmo assim não existe nenhum que seja amplo e espaçoso, que se relacione com as grandes coisas de que a verdadeira vida é constituída.
(p. 57)

PS: O número da página corresponde a da edição de bolso distribuída pela L&PM Pocket Plus e traduzida pelo Pedro Sussekind.

terça-feira, novembro 14, 2006

Reflexões de Férias 1

Como é bom entrar de férias e sentir que 70% dos problemas de repente desapareceram. E perceber como as pessoas correm pra lá e prá cá apressadas, atrasadas e preocupadas com um monte de coisa. E a seguir uma constatação clichê: será que não é um exagero da vida moderna?

Trabalho cerca de 10 horas todos os dias úteis da semana, sendo que sempre acabo pegando um final de semana para trabalhar. É dureza. E dezembro, o mês que costuma ser de pico, me dá medo...

Mas também há aquela vontade de aprender agora para saber produzir algo bacana no futuro. E aprender, só fazendo. Trabalhar todas essas horas diárias acaba sendo uma imersão de aprendizado naquilo que eu devo saber fazer: ser criativo, rápido e saber lidar com egos dos outros e os meus. E ainda tenho que aprender muito em todos esses quesitos.

Essas são as reflexões de férias, praticamente as mesmas que fiz nas férias do ano passado e que praticamente esqueci na volta ao trabalho. Mas como eu tenho mais algumas semanas livres, vou pensar muito sobre isso (mesmo sem querer).